segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A Cidade é uma só?

Iniciando os trabalhos em 2012 o Ceicineclube exibirá A Cidade é uma só?

Vencedor do edital "Brasília 50 anos" da TV Brasil, A Cidade é uma só? (2011) é o quarto objeto fílmico na carreira de Adirley Queirós (Rap, o canto da Ceilândia, Fora de campo e Dias de greve).
Será a primeira vez que o filme será exibido em sua cidade natal e, dentro da prospota do Ceicineclube, aproveitaremos para discutir algumas questões latentes na obra como a distinção documentário x ficção, a representação do corpo periférico e o uso do espaço público, entre outras questões.

Adiantando, ilustrando e iluminando as questões a priori, publicamos dois trechos de textos do crítico francês Serge Daney:

A pose (keep smiling)
Alguém foi filmado? Existem muitos casos.
1- A filmagem aconteceu no território da indústria de cinema. Ela é simbolicamente coberta por um tipo de contrato (salário, cachê, participações, colaborações) feito entre a produção e os atores. Em nome desse contrato, o cineasta pode exigir determinada atuação ou performance.
2- A filmagem deu-se no território fluido do documentário de ensaio social ou etnológico ou de pesquisa. Os "atores" são normalmente incapazes, total ou relativamente, de dominar intelectualmente a operação a qual eles emprestam corpo e voz. Entramos então no domínio da moral e do risco: filmar aqueles para os quais não existe nenhuma reversibilidade, nenhuma chance de se tornarem, eles, cineastas, nenhuma possibilidade de se antecipar sobre a imagem que será tomada deles: nenhum domínio sobre a imagem. Loucos, crianças, primitivos, excluídos, filmados sem esperança (para eles) de retorno, filmados "para seu próprio bem", pelo bem da ciência ou para o escândalo: exotismo, filantropia, horror.
3- Existe um terceiro caso: quando uma filmagem é realização de um cineasta ou de uma equipe que decidiu colocar a câmera e seu conhecimento a serviço de. De um povo, de uma causa, de uma luta. Nessas condições, a não-reversebilidade tem outras causa (subdesenvolvimento, falta de material, necessidade de ajuda estrangeira), mas ela não deixará de criar novos problemas.

Serge Daney in A Reencenação (Ivens, Antonioni, a China).

"Continuamos a opor termo por termo a encenação (ficção, reconstituição) ao direto (documentário feito ao vivo). Aos excessos de uma encenação herdada da cinefilia dos gêneros hollywoodianos, continuamos a opor os méritos do direto, do espontâneo, do vivido, do natural - tudo o que se tornou possível pelo progresso da técnica e que culmina com o "cinema-verdade" dos anos 60. Essa oposição é um truque. Falando em termos políticos, mesmo "politistas", é preciso dizer que a burguesia não tem apenas o monopólio das imagens filmadas, ela tem - prioritariamente para qualquer filme - o monopólio da encenação dessa realidade. Uma cidade, uma sala de cinema, uma clínica são já encenação. Existe de antemão um modo de usar o tempo e o espaço que eles circunscrevem, percursos obrigatórios, os limites e as proibições. Em última análise, é esse modo de utilização que é político (no sentido em que reforça um poder). Quando um cineasta filma esse espaço "ao vivo" ou o "naturaliza" em uma ficção, não o deixa livre, no entanto, dessa primeira encenação e, muitas vezes, a condiciona. O contrário de uma encenação, não é o direto selvagem, mas uma outra encenação. O contrário do direto não é uma encenação, mas um outro direto. Diverso porque implica uma nova percepção, uma nova posição (espacial, moral, política) do filmador diante daquilo que filma."

Serge Daney in O Espaço Político (filme Histórias de A)


Serviço
Quando: 12/01/2012 (quinta-feira)
Horário: 19:30
Local: sala de multimeios do Centro Cultural Ceilândia
Endereço: QNN 13 lote B Área Especial - Centro Cultural - Ceilândia (ao lado da estação do metrô Ceilândia Norte)